Grande Festa em Mesquita (RJ) Homenageia Bezerra da Silva
Neste sábado (18), a partir das 13 horas, Mesquita (RJ) se prepara para uma grande festa. Caravanas de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo são esperadas na cidade da Baixada Fluminense. O evento, que ocorre no Espaço JS1, contará com uma feijoada regada a muito samba em homenagem ao cantor, compositor e músico multi-instrumentista Bezerra da Silva, falecido há exatos 20 anos. A festividade se estenderá até domingo, com um churrasco programado para encerrar a celebração.
"Serão praticamente dois dias de festa. A gente canta samba à vontade, inédito e gravado, e faz aquela reverência ao nosso mestre", comenta Roxinho, autor de clássicos como "Transação de Malandro" e "A Semente". O evento também celebra os 12 anos de funcionamento do Q.G. dos Compositores e Amigos do Bezerra da Silva, que também está localizado em Mesquita. O convite está disponível nas redes sociais e é aberto a todos, com a ressalva de que não são bem-vindos os "cagoetes", "bichos", "manés" ou "otários", termos que não são aceitos pelo sistema planetário de sambistas que orbitam Bezerra.
Terminologia do Samba
Os termos mencionados têm um significado especial na linguagem do samba. "Cagoete" é um delator, algo abominado pelos sambistas. "Bicho" refere-se a quem não quer trabalhar, enquanto "mané" e "otário" são sinônimos que designam pessoas que agem de maneira errada ou enganadora. "O otário é aquele cara que te dá um bote, pede dinheiro emprestado e não paga", explica Enedir Vieira Dantas, conhecido como Pinga. Para compreender plenamente esses significados, é necessário consultar o "Dicionário de Bizerrês".
Bezerra da Silva: O Malandro das Favelas
Bezerra da Silva, nascido em 23 de fevereiro de 1927 no Recife, fez carreira no Rio de Janeiro, onde se tornou um ícone da música popular brasileira. Ele foi o embaixador das favelas e cronista das vidas das pessoas que habitam as periferias. Desde cedo, enfrentou dificuldades, incluindo a falta de registro civil até os 15 anos e a experiência de viver nas ruas. "Eu me identifiquei muito com a realidade do Bezerra, porque eu tenho uma origem humilde", relata o historiador Eder Sedano.
As dificuldades de Bezerra começaram a ser superadas quando se dedicou à música, seguindo um conselho de uma entidade em um terreiro de umbanda. Ele se tornou músico profissional e trabalhou com grandes nomes da música brasileira, além de ter sua própria carreira consolidada no samba.
Legado Musical e Crítica Social
O advogado e mestre em linguística Yuri Brito Santos destaca que a música de Bezerra da Silva reflete a criminalização dos pobres e a forma como o Estado lida com as comunidades carentes. "Bezerra cantava um Brasil mais cru, em vários sentidos", afirma Santos.
O sambista começou sua carreira gravando coco no início dos anos 1970, mas o sucesso chegou no final daquela década com o Partido Alto. "Bezerra criou uma linguagem irônica e bem-humorada, que falava do dia a dia das comunidades", destaca o cantor Roberto Frejat.
Bezerra da Silva faleceu em 17 de janeiro de 2005, aos 77 anos, após complicações respiratórias. Seu último trabalho, "Caminho da Luz", foi lançado postumamente. No final da vida, tornou-se evangélico neopentecostal, uma reviravolta que deixou um legado musical e cultural significativo para a sociedade brasileira.
Conclusão
A festa em Mesquita não é apenas um evento de celebração, mas uma homenagem a um dos maiores ícones da música brasileira, cuja obra continua a ressoar nas vozes e corações das comunidades que ele representava. A festa promete ser um tributo vibrante à vida e ao legado de Bezerra da Silva, mantendo viva a chama do samba e da malandragem.