Ter transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) está associado a uma expectativa de vida mais curta e um aumento no risco de problemas de saúde mental, conforme um novo estudo publicado no The British Journal of Psychiatry. A pesquisa, que envolveu mais de 30.000 pessoas diagnosticadas com TDAH no Reino Unido, revelou que homens com o transtorno apresentaram uma redução na expectativa de vida entre 4 anos e meio a 9 anos, enquanto as mulheres tiveram uma diminuição de 6 anos e meio a 11 anos.
"Embora muitas pessoas com TDAH vivam vidas longas e saudáveis, nossa descoberta de que, em média, elas estão vivendo vidas mais curtas do que deveriam indica necessidades de suporte não atendidas", afirma Liz O’Nions, autora principal do estudo e pesquisadora honorária em psicologia clínica na University College London. Ela ressalta a importância de "descobrir as razões por trás das mortes prematuras para que possamos desenvolver estratégias para preveni-las no futuro".
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento frequentemente diagnosticado na infância, mas que pode persistir na vida adulta. Indivíduos com TDAH têm desequilíbrios neurotransmissores, como a dopamina, essencial para funções executivas e habilidades de autorregulação, incluindo planejamento, foco e controle de impulsos. Esses sintomas podem impactar diversas áreas da vida, levando a dificuldades em concentração, organização e gerenciamento do tempo.
A prevalência do TDAH é estimada em 3% a 4% entre adultos no Reino Unido, com um percentual de pelo menos 4% entre crianças. No entanto, muitos casos podem não ser diagnosticados, o que sugere que a diferença na expectativa de vida identificada pelos autores pode estar superestimada.
As novas descobertas corroboram pesquisas anteriores, como um estudo de 2022 que identificou maior risco de morte prematura entre pessoas com TDAH ou autismo, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Este estudo é o primeiro a utilizar dados de mortalidade e o método de tábua de vida, uma técnica estatística que analisa taxas de mortalidade em diferentes idades.
A análise revelou que o TDAH está ligado a um maior risco de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão, automutilação, suicídio e transtornos de personalidade. Outros problemas como autismo, deficiências intelectuais e hábitos prejudiciais, como tabagismo e uso excessivo de álcool, também foram mais comuns nesse grupo.
Kevin McConway, professor emérito de estatística aplicada da Open University, destaca que, embora o estudo seja "impressionante", ele é baseado em dados observacionais que não podem estabelecer uma relação causal definitiva. "O que pode ser feito sobre isso? Isso depende se as reduções na expectativa média de vida são causadas (de alguma forma) pelo TDAH", afirma.
Os especialistas apontam que o tratamento para TDAH e condições associadas no Reino Unido é insuficiente, especialmente para adultos, o que pode contribuir para as diferenças na expectativa de vida. Além disso, fatores genéticos ou ambientais que surgem antes do nascimento ou na infância podem influenciar tanto o diagnóstico de TDAH quanto a mortalidade precoce.
Oliver Howes, professor de psiquiatria molecular do King’s College London, acrescenta que características como o tabagismo e consumo de álcool provavelmente são consequências do TDAH, impactando as taxas de mortalidade.
Josh Stott, autor sênior do estudo, ressalta que pessoas com TDAH "têm muitas qualidades e podem prosperar com o suporte e tratamento adequados". Especialistas sugerem que abordar a mortalidade prematura entre pessoas com TDAH envolve a coleta rotineira de informações sobre condições comportamentais e médicas, permitindo que profissionais de saúde identifiquem fatores de risco e melhorem o tratamento.
Recursos voltados para indivíduos com TDAH podem auxiliar na adoção de hábitos saudáveis que promovam uma melhor qualidade de vida, como exercício físico, nutrição adequada e cuidados com a higiene do sono. Profissionais de saúde mental especializados podem ajudar na gestão dos sintomas e na discussão sobre a eficácia de medicamentos para TDAH.
Um estudo recente com quase 150.000 suecos diagnosticados com TDAH revelou que o uso de medicação está associado a uma redução de 19% no risco de mortalidade nos dois anos seguintes ao diagnóstico.