Refletindo sobre elefantes cor-de-rosa: uma análise da nossa capacidade de imaginar.


Um estudo internacional liderado por pesquisadores da Universidade Queensland, na Austrália, promete transformar a compreensão sobre a afantasia, condição caracterizada pela incapacidade de visualizar mentalmente. Intitulado “Não pense em um elefante cor-de-rosa”, a pesquisa foi publicada na revista Cortex e sugere que a afantasia congênita não deve ser considerada um déficit cognitivo.

Os autores do estudo afirmam que a dificuldade de ter experiências visuais imaginadas pode, na verdade, ser compensada por uma maior resistência a pensamentos intrusivos, que se manifestam como sensações imaginadas. Em contraste, indivíduos que possuem uma imaginação visual vívida, conhecida como hiperfantasia, tendem a experimentar imagens mentais espontaneamente, sem controle consciente.

Para validar suas hipóteses, os pesquisadores utilizaram o famoso “teste do elefante cor-de-rosa”, que pede aos participantes que não pensem em um elefante dessa cor. O resultado, no entanto, é paradoxal: a maioria acaba visualizando mentalmente o elefante, desafiando a própria instrução. Esta frase, extraída do livro “A cidade do céu” de Curt Siodmak, de 1974, se tornou um símbolo da dificuldade em evitar a visualização intencional.

Os participantes foram convidados a imaginar experiências visuais ou auditivas específicas, como a visão de elefantes cor-de-rosa, ou a tentar não ter essas sensações. Em fases seguintes, a equipe pediu que os participantes relaxassem e esvaziassem suas mentes. Durante intervalos de três segundos após essas instruções, a atividade cerebral foi registrada por meio de eletroencefalografia (EEG), permitindo a análise dos espectros das gravações.

Os autores, Derek Arnold e Loren N. Bouyer, explicaram que o foco das análises estava na intensidade da imaginação visual e na tendência das pessoas a visualizar. Os resultados mostraram que indivíduos com imaginação visual vívida são mais suscetíveis a visualizações involuntárias. “E pudemos prever esses resultados medindo a atividade cerebral”, afirmaram os pesquisadores.

Embora algumas pessoas com “mentes cegas e surdas” sintam falta de imaginar cenas detalhadas, os autores observam que isso vem com a vantagem de poder bloquear ou interromper experiências imaginárias involuntárias. Em contraste, aqueles que podem criar imagens vívidas frequentemente não conseguem controlar essas visualizações.

Uma das conclusões mais intrigantes, baseada na experiência pessoal dos pesquisadores afantasistas, é que suas mentes ainda vagueiam, mesmo que isso não envolva visualizações. Arnold relata que, ao divagar, imagina participar de conversas sonoras. Por outro lado, Bouyer experimenta seus pensamentos como sensações de textura e movimento. Assim, devaneios não precisam ser necessariamente visuais.

Sobre a ideia de que afantasistas podem ser mais resistentes ao trauma ao não reviver eventos, os autores destacam que essa suposição ainda precisa de mais investigação. Contudo, é evidente que a percepção popular sobre a afantasia pode estar equivocada. Ao pedir que algumas pessoas não pensem em um elefante cor-de-rosa, muitas delas conseguem facilmente afastar essa imagem da mente, retornando a pensamentos mais rotineiros.



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