Laços sociais são fundamentais para macacos-prego aprenderem novas habilidades


Um estudo recente com macacos-prego (Sapajus libidinosus) no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, destaca a importância da tolerância social para o aprendizado social. Publicado na revista PNAS, a pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da FAPESP, e da Universidade de Durham, no Reino Unido.

Aprendizado Social Através da Observação

Os pesquisadores observaram que a interação entre parceiros em atividades coletivas, como a catação de parasitas e brincadeiras, facilita a aquisição de novos aprendizados.

Camila Galheigo Coelho, uma das autoras principais do estudo, afirma:

“Nossas observações alimentaram um modelo matemático que mostrou que os macacos aprendem com os outros principalmente por observação direta, olhando de perto outro indivíduo fazer a tarefa.”

Eduardo Ottoni, professor do IP-USP e orientador do estudo, complementa:

“O aspecto mais importante foi comprovar, por meio do uso da análise de difusão baseada em redes [NBDA, na sigla em inglês], que a difusão de uma nova técnica de obtenção de recurso se difundiu por aprendizagem socialmente mediada, e não simplesmente pela gradual aprendizagem individual por novos indivíduos.”

Influência da Tolerância Social

O estudo revelou que jovens que ainda não haviam aprendido a tarefa eram mais propensos a observar e aprender com machos adultos bem-sucedidos do grupo. O projeto, intitulado “Efeitos da dinâmica social na difusão de novos comportamentos em grupos de macacos-prego”, foi coordenado por Ottoni, que tem um histórico de pesquisa sobre o uso de ferramentas e aprendizado social por esses primatas.

Ottoni destacou:

“A descoberta do uso de ferramentas e aprendizado social entre macacos-prego foi um acaso para nós, que se desenrolou na descoberta de uma série de processos culturais não humanos.”

Metodologia do Estudo

Os pesquisadores observaram dois grupos de macacos-prego por nove meses cada. Para o experimento, um indivíduo aprendia uma atividade sem o conhecimento dos outros, permitindo a análise do processo de aprendizagem e sua transmissão.

Durante o experimento, foi apresentada uma caixa com dois mecanismos para liberar uma recompensa comestível a um membro do grupo que se afastou. Após a aprendizagem, a caixa foi disponibilizada para o grupo, e as observações mostraram que ambos os grupos aprenderam a liberar a recompensa de ambas as maneiras.

Coelho comentou sobre a expectativa inicial:

“Nossa expectativa era de que um grupo aprendesse a empurrar e outro a puxar, gerando duas tradições distintas. No entanto, nos dois grupos eles aprenderam a liberar a recompensa das duas formas.”

Resultados e Conclusões

Os resultados indicaram que, no grupo maior e mais subdividido, 57,5% dos indivíduos aprenderam a executar a tarefa, enquanto apenas 36,7% no grupo menor, onde um macho dominante impedia que muitos se aproximassem. Essa diferença destaca a importância da tolerância entre os membros do grupo para o aprendizado social.

O estudo não apenas contribui para a compreensão do comportamento dos macacos-prego, mas também abre novas discussões sobre a evolução cultural e social entre os primatas.



Fonte: CNN BRASIL

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