Indígena cadeirante usa arte para mobilizar periferia em Pernambuco



"Nascemos ativistas em um mundo machista / onde o homem branco quer dominar nossa vida / matando, estuprando e violentando nossas terras."

Maria Alice de Melo Silva, 19 anos

Na voz emocionada da universitária indígena Maria Alice de Melo Silva, que é cadeirante, emergem mais do que versos. Alice promove projetos e encontros regulares com outros jovens no bairro do Ibura, periferia do Recife. Nesta sexta-feira (7), Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, sua história ilustra como a mobilização começa desde muito jovem.

Nascida na cidade de Pesqueira (PE) e pertencente à etnia Xukuru do Ororubá, Alice é estudante de terapia ocupacional na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e conselheira jovem do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), além de integrar o Reimaginando Futuros: Rede Nacional de Lideranças Adolescentes. O Unicef explica que essa rede tem como objetivo fortalecer a participação de adolescentes para promover mudanças sociais em temas prioritários na agenda de direitos.

Ações Transformadoras na Comunidade

Alice é reconhecida por suas ações na comunidade do Ibura, onde coordena projetos de inclusão desde a adolescência. “A minha proposta é salvar vidas desses jovens. Mostrar para eles que eles podem muito mais.”

Cineclube Ibura

No segundo semestre de 2022, Alice criou o projeto Cineclube Ibura, que exibe filmes sobre direitos humanos, mudanças climáticas e cultura da favela. “Depois do filme, nós fazemos uma rodada de debates entre os jovens, além de uma mostra cultural com a própria juventude da comunidade.”

O cineclube, que discute cidadania, acontece no Centro Comunitário Paulo Freire e envolve mais de 100 jovens em atividades como batalhas de rima, danças, desenhos e grafitagem. O sucesso do projeto tem atraído cada vez mais pessoas.

Valorizando a Cultura Indígena

Alice acredita na importância de trazer os saberes ancestrais para a área urbana. “É necessário trabalhar para quebrar o preconceito que existe na cidade. Eu tenho levado muito isso para a periferia e mostrado para eles a cultura indígena e quanto é importante respeitar e entender.”

Ela visa mostrar à juventude as potencialidades da arte e como projetos como o Cineclube Ibura podem gerar transformações significativas.

Arte na Favela

Alice, junto com outros jovens, criou o coletivo Arte na Favela, que já conta com cerca de 200 integrantes. “A ideia é trazer oportunidades, por exemplo, para os MCs da periferia gravarem músicas.” Um desses artistas é Ramon Lira, conhecido como MC Kim, de 18 anos. “Eu produzo cultura hip hop, poesia e rap. Fazemos duelos entre MCs, em que sobressai o artista com o melhor conhecimento daquele tema.”

Ramon, que perdeu o emprego de atendente em um restaurante, agora busca viver da arte e sustentar o primeiro filho que nascerá em abril. “A gente pergunta se as pessoas podem contribuir com qualquer valor.” Ele atribui a transformação em sua vida às ideias e iniciativas de Alice.

Superando Desafios e Promovendo Inclusão

Alice, que enfrenta os efeitos de uma paralisia nas pernas desde os 10 anos, vê sua condição como uma motivação para lutar pelos direitos de outros. “Eu venho lutando muito pelos meus direitos, mostrando que nós, mesmo tendo deficiência, podemos trabalhar, estudar e sonhar.”

Atualmente, ela mora sozinha e percorre trajetos que somam três horas em transporte público. “Nos meus debates com os jovens com deficiência, quero mostrar para eles que podem, sim, construir uma vida.”

Com os olhos brilhando, Alice revela seu desejo de se especializar em terapia ocupacional social. “Vou querer sempre ajudar a minha comunidade. Hoje tenho 19 anos, mas não quero sair daqui.”




Fonte: EBC

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