A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou, na última segunda-feira (23), uma versão genérica do medicamento injetável diário GLP-1 liraglutida, destinado a pessoas com diabetes tipo 2. Essa decisão abre as portas para opções de menor custo no mercado, contribuindo para a resolução de uma escassez de medicamentos.
A liraglutida, comercializada sob a marca Victoza, é uma versão anterior da semaglutida, ingrediente ativo do Ozempic, ambos fabricados pela dinamarquesa Novo Nordisk. De acordo com a empresa, o preço do medicamento de marca varia entre US$ 500 (aproximadamente R$ 3.076,35) e US$ 815 (R$ 5.014,45) por embalagem, dependendo da dosagem.
A versão genérica da liraglutida é produzida pela Hikma Pharmaceuticals USA, que espera disponibilizar o medicamento em todo o território americano antes do final do ano. Embora a empresa não tenha divulgado o preço planejado, afirmou que "custará menos do que o Victoza de marca".
A aprovação coincide com a autorização da Anvisa para a fabricação no Brasil de medicamentos à base de liraglutida, tanto para diabetes quanto para obesidade. O Dr. Harlan Krumholz, cardiologista da Universidade de Yale, destacou que "existem muitas pessoas usando este medicamento, e elas se beneficiarão com outra versão genérica dele". Contudo, Krumholz observou que os medicamentos GLP-1 mais novos, que são injetados semanalmente, demonstraram benefícios mais robustos, especialmente para pacientes com obesidade.
Esses medicamentos, como Ozempic e Wegovy, que utilizam semaglutida, além de Mounjaro e Zepbound, com tirzepatida, podem custar US$ 1.000 por mês ou mais, sem considerar seguros ou descontos. Krumholz alertou que a introdução de uma versão genérica pode criar "um sistema de duas camadas", onde pacientes que não podem arcar com os preços mais elevados acabam utilizando medicamentos com evidências de benefício menos robustas.
A Teva Pharmaceuticals já havia introduzido uma versão genérica autorizada de liraglutida em junho, sob um acordo judicial com a Novo Nordisk. Essa versão tem um preço cerca de 14% inferior ao do Victoza de marca.
O FDA diferencia um genérico autorizado de um medicamento genérico, considerando que o primeiro é o "mesmo produto farmacêutico" do original, apenas sem a marca no rótulo. O Dr. Iilun Murphy, do FDA, afirmou que "os medicamentos genéricos oferecem opções de tratamento adicionais que geralmente são mais acessíveis para os pacientes".
Para uma redução significativa no preço da liraglutida, é esperado que mais fabricantes tragam genéricos ao mercado, como explicou o Dr. Aaron Kesselheim, professor de medicina da Harvard Medical School. “Geralmente são necessários quatro ou mais genéricos independentes no mercado antes que os preços atinjam reduções de 50-60% ou maiores”, disse.
Além disso, os genéricos são distintos dos medicamentos manipulados, que são versões feitas por farmácias em casos de falta. A escassez de liraglutida persiste nos EUA desde julho de 2023, e o FDA prioriza a avaliação de pedidos de medicamentos genéricos para produtos em falta, visando melhorar o acesso dos pacientes.
A Dra. Jody Dushay, professora assistente de medicina da Harvard Medical School, espera que o preço da liraglutida genérica "seja significativamente menor do que o Victoza e Saxenda de marca", embora reconheça que isso leva tempo. Ela também expressou a esperança de que o medicamento chegue rapidamente às farmácias e aos pacientes.