Exposição no Masp compartilha histórias da comunidade LGBTQIA+


Exposição Histórias LGBTQIA+ no Masp: Uma Celebração da Diversidade e Resistência

Em uma das diversas paredes com o rosa predominante, a curadoria da exposição Histórias LGBTQIA+, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), afirma que, "embora alguns artistas da exposição tenham morrido de complicações ligadas à aids, há outros contemporâneos que seguem vivendo com HIV e florescendo". Essa declaração ressalta a luta da comunidade LGBTQIA+, que sempre sofreu perseguições e ainda precisa contestar a heteronormatividade, especialmente devido ao estigma associado ao vírus desde os anos 1980.

A exposição busca traduzir tanto o que se passa em universos privativos quanto a auto-organização de membros da comunidade em defesa de si mesmos e de outros corpos dissidentes. Com um total de 150 obras de artistas de diversos países, a mostra inclui itens de acervos especializados na temática, como fotografias e recortes de jornais. Este evento fecha o ciclo deste ano dedicado às Histórias da Diversidade LGBTQIA+ no Masp.

Nos meses que antecederam sua abertura, os visitantes puderam apreciar as obras do irlandês Francis Bacon, que retratam os efeitos da criminalização da homossexualidade na sociedade britânica até 1967, e as criações do brasileiro Mário de Andrade, cuja orientação sexual e negritude foram historicamente apagadas.

Na exposição Histórias LGBTQIA+, a diversidade presente em cada letra da sigla se reflete em uma variedade de plataformas artísticas. A artista Mayara Ferrão utiliza inteligência artificial para criar narrativas lésbicas negras, enquanto outros artistas optam por desenhos digitais sobre papel ou manipulação de materiais como o toco de umburana, criando autorretratos nu. Essa exposição corporal se torna um ato de resistência frente a conservadores que atacam a comunidade.

A necessidade de quebrar as amarras que tentam conter aqueles que se reconstituem em novas tentativas de repressão é evidenciada. Artistas respondem com "corpos protestos", como expressa Elian Chali: "Nadie sabe lo que puede un cuerpo que no puede", ecoando o questionamento do filósofo Baruch Spinoza sobre "O que pode o corpo?".

Dividida em oito seções, a exposição abrange temas como Amor e desejo; Ícones e musas; Espaços e territórios; Ecossexualidades e fantasias transcendentais; Sagrado e profano; Abstrações; Arquivos; e Biblioteca Cuir. A curadoria também revela as divergências dentro da comunidade LGBTQIA+, como o caso das feministas radicais (radfem), que desconsideram a inclusão de mulheres trans e travestis.

O ensaio fotográfico de Angela Jimenez, que retrata mulheres que montaram os palcos do Michigan Womyn’s Music Festival, explora a exclusão enfrentada por essas mulheres. O festival, tradicional entre lésbicas feministas nos Estados Unidos, encerrou suas atividades em 2015 devido a boicotes relacionados à exclusão de trans e travestis.

Além de abordar práticas como o "banheirão", que se refere a encontros de gays em banheiros públicos, a exposição presta homenagens a militantes assassinados, como a artista lésbica Mónica Briones Puccio, executada por militares em 1984. A seleção de obras também busca atenuar estereótipos sobre a comunidade LGBTQIA+.

Um dos destaques da exposição é o protagonismo do Brasil, evidente em objetos sutis e outros mais visíveis. As letras adesivas que identificam as seções são todas holográficas, remetendo ao arco-íris da comunidade e à Parada LGBTQIA+ de São Paulo, a maior do mundo, realizada na mesma avenida onde a exposição está localizada. Isso evidencia a relação entre mobilizações sociais nas ruas e espaços museológicos.

O Brasil abriga o Museu da Diversidade Sexual, localizado na República, e o Museu Transgênero de História e Arte (Mutha), um dos poucos museus de arte trans do mundo. Apesar disso, o país continua sendo o que mais registra homicídios de trans e travestis.

A visita à exposição é uma oportunidade valiosa para conhecer iniciativas de arquivos no exterior, como a Takweer, que reúne histórias queer árabes. Ao percorrer os documentos digitalizados, o visitante encontra figuras como Rosita Barahona, de Honduras, descrita como uma dama perigosa, que se ergue no retrato, conectando-se com outras pessoas identificadas na exposição, que ecoam palavras de ordem como "Dos bares para as ruas", "Dos armários para as ruas" e "Gay por natureza, orgulhoso por opção".

Serviço

Exposição Histórias LGBTQIA+
De 13 de dezembro de 2024 a 13 de abril de 2025
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp)
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista | São Paulo
1º andar, mezanino e 2º subsolo

Horários:
Terças grátis e primeira quinta-feira do mês grátis;
Terças, das 10h às 20h (entrada até as 19h);
Quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h);
Fechado às segundas.

Agendamento online obrigatório no site masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$ 70 (entrada); R$ 35 (meia-entrada)

Todas as exposições temporárias do Masp têm recursos de acessibilidade, com entrada gratuita para pessoas com deficiência e seu acompanhante. São oferecidas visitas em libras ou descritivas, além de textos e legendas em fonte ampliada e produções audiovisuais em linguagem fácil – com narração, legendagem e interpretação em libras que descrevem e comentam os espaços e as obras.

Telefone: (11) 3149-5959



Fonte: EBC

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