A epidemia do vírus Zika, que atingiu o Brasil em 2015, resultou em consequências devastadoras, incluindo o nascimento de bebês com microcefalia – uma condição caracterizada pela redução do tamanho da cabeça. Esses bebês enfrentam riscos significativamente maiores de internações hospitalares e, uma vez internados, necessitam de mais tempo para receber alta médica. Essa constatação vem de um estudo realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na revista científica International Journal of Infectious Disease, editada pela Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, com sede em Boston, nos Estados Unidos.
Destaques do Estudo
- Taxas de Hospitalização: As crianças afetadas pelo Zika apresentaram taxas de hospitalização entre três e sete vezes maiores em comparação às crianças que não possuem a síndrome.
- Tempo de Internação: Os pacientes com microcefalia permanecem internados por períodos consideravelmente mais longos.
Os pesquisadores analisaram informações de 2 mil casos de crianças com síndrome congênita do Zika (SCZ) e compararam esses dados com os de 2,6 milhões de crianças sem a síndrome. O estudo avaliou índices de admissões em hospitais, os principais motivos e o tempo de internação nos primeiros quatro anos de vida.
Conclusões Adicionais
Uma das descobertas mais alarmantes foi que, enquanto as crianças sem a síndrome apresentaram uma diminuição nas taxas de hospitalização ao longo do tempo, aquelas com SCZ mantiveram altas taxas durante todo o período analisado. O médico líder do estudo, João Guilherme Tedde, destaca que as crianças com microcefalia estão em risco de doenças combinadas:
“Além das condições típicas da idade, como infecções e doenças respiratórias, essas crianças apresentam complicações diretamente relacionadas à SCZ.”
Essa relação pode criar um círculo vicioso, onde cada condição atua como um fator de risco para a outra. O estudo também menciona que a maioria das crianças que nasceram com a síndrome não sobreviveu ao primeiro ano de vida.
Impactos e Populações Vulneráveis
A epidemia afetou principalmente famílias de baixa renda, especialmente no Nordeste do Brasil, que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) e de programas de transferência de renda condicionada. Os pesquisadores ressaltam a necessidade de planos de cuidado estruturados, focados no manejo ambulatorial das crianças com SCZ.
Além disso, a Fiocruz indica que um estudo preliminar revela que crianças com a síndrome têm:
- 30 vezes mais risco de morte por doenças do sistema respiratório.
- 28 vezes mais risco por doenças infecciosas.
- 57 vezes mais risco por doenças do sistema nervoso.
A Urgência da Prevenção
Os autores do estudo enfatizam a necessidade urgente do desenvolvimento de uma vacina que ofereça imunidade duradoura contra o vírus Zika. Instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto Butantan estão trabalhando em pesquisas para a criação de uma vacina. Recentemente, o Ministério da Saúde intensificou ações de combate às arboviroses, incluindo a zika.
O trabalho científico da Fiocruz contou com a colaboração de especialistas do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e da London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM).