O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, destaca a necessidade de um debate corajoso sobre o papel dos militares na política brasileira. Durante uma "roda de conversa" no STF, Mendes mencionou que existem projetos de lei no Congresso Nacional que visam evitar “a militarização da administração e a politização dos quartéis.” Ele propôs um novo marco legal que estabeleça um prazo de quarentena para os servidores públicos que desejam se candidatar a cargos eletivos.
“Refirmo aqui não só a militares, mas juízes, promotores, delegados, policiais e tantos outros quadros da administração cuja atuação não pode ser e não deve ser instrumentalizada para fins políticos”, afirmou Gilmar Mendes. A presença crescente de ex-militares e policiais nas esferas legislativas é um reflexo da publicidade das atividades exercidas por esses profissionais, que frequentemente utilizam suas patentes para conquistar a simpatia do eleitorado. Atualmente, a bancada da segurança pública no Congresso conta com 56 deputados e 10 senadores, um número significativamente maior em comparação aos quatro parlamentares da primeira legislatura pós-Constituição Federal.
Esses representantes promovem uma agenda que inclui o fim das penas alternativas, a redução da idade penal e mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente, além de uma maior flexibilização na circulação de armas e munições.
Em relação ao papel dos militares, Antonio Tabet, publicitário e ator, observa que parte da opinião pública vê os militares como “pessoas com uma correção maior ou idôneas.” Essa percepção pode distorcer a realidade, já que muitos confundem disciplina com uma postura rígida e intransigente. Para o jornalista Leandro Demori, os militares se beneficiam de “visões idílicas” do passado, que, segundo ele, foram utilizadas para mobilizar a população em momentos históricos críticos.
A história do Brasil, no entanto, é marcada pela participação do Exército em golpes de Estado, como o de 1964, que instaurou uma ditadura de 21 anos. Bianca Santana, ativista e jornalista, ressalta que os abusos cometidos por militares durante esse período permaneceram impunes. “É uma tradição do Exército Brasileiro: eles nunca foram responsabilizados pelos golpes consecutivos contra a população e contra a democracia”, argumenta. Juliana Dal Piva, autora de um livro sobre o clã Bolsonaro, concorda que o Brasil falha em não discutir o legado autoritário da ditadura.
Christian Dunker, psicanalista, expressa a necessidade de reformas e responsabilização dos envolvidos na intentona bolsonarista de 8 de janeiro em Brasília. “A gente precisa de pagamento da dívida simbólica para os envolvidos”, defende.
Antonio Tabet e Felipe Recondo, jornalista com vasta experiência em coberturas do Poder Judiciário, concordam que a possibilidade de anistia para conspiradores deve ser rejeitada. Tabet afirma que o golpe não ocorreu devido à resistência de alguns militares que “não se dobraram aos interesses de uma minoria golpista.”
Para Leandro Demori, não há um consenso dentro das Forças Armadas em momentos de crise. “Todos os golpes na história do Brasil foram dados por grupos dentro das Forças Armadas”, observa.
Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, reforça a importância de separar a instituição das ações de indivíduos. Ele acredita que as instituições são maduras o suficiente para evitar que equívocos históricos se repitam. “A democracia, as instituições são seres vivos. Nós precisamos nutri-los, precisamos alimentá-los, precisamos estar vigilantes todo o tempo para que as instituições sigam fortes”, conclui.
A Agência Brasil buscou contato com o advogado de Jair Bolsonaro para um posicionamento, mas até o momento não obteve resposta.
Com entrevistas de Ana Passos, Marieta Cazarré, Patrícia Araújo e Thiago Padovan, da TV Brasil.