Estudo revela coral que se movimenta como água-viva; saiba mais


Corais não são conhecidos por sua movimentação, mas um estudo recente revelou que o coral-solitário da espécie Cycloseris cyclolites é capaz de "caminhar" ativamente em direção a fontes de luz azul. O movimento é similar ao das águas-vivas e desafia a ideia de que esses organismos são exclusivamente sésseis.

A maioria dos corais permanece fixada a substratos, como rochas e algas, ao longo da vida. No entanto, o C. cyclolites se desprende de seu anexo inicial à medida que amadurece, tornando-se móvel. Essa espécie é frequentemente encontrada na região Indo-Pacífica, com indícios de presença no Oceano Índico e no Mar Vermelho. Segundo o Dr. Brett Lewis, principal autor do estudo, as áreas onde esses corais se desprendem são de alta energia, com ondas fortes que forçam os pequenos indivíduos a migrar para águas mais profundas, aumentando suas chances de sobrevivência.

O estudo, publicado na revista PLOS One, revelou que a luz azul é um importante fator de atração para esses corais. A pesquisa anterior já havia indicado que alguns corais-solitários podiam se mover em resposta à luz, mas os detalhes precisos desse comportamento não eram conhecidos. “C. cyclolites se move ativamente por meio de uma técnica conhecida como inflação pulsada quando exposto à luz azul,” explicou Lewis, permitindo a migração em direção a fontes de luz que se assemelham ao seu habitat natural.

A equipe de pesquisa coletou cinco espécimes de C. cyclolites na costa de Cairns, na Austrália, e os analisou em um aquário. Os testes mostraram que os corais manifestaram uma forte preferência pela luz azul, com a maioria movendo-se em direção a essa fonte luminosa. “O movimento foi caracterizado por pulsos periódicos, com surtos de mobilidade que duravam de 1h a 2h,” disse Lewis. Durante os experimentos, alguns corais se deslocaram até 220 milímetros em 24 horas, enquanto apenas 13,3% responderam à luz branca, percorrendo distâncias muito menores.

Quando expostos a campos de luz azul e branca simultaneamente, todos os corais migraram em direção à luz azul. Lewis comparou o comportamento dos corais ao de humanos na praia: “Quando você mergulha e olha para a costa, tudo parece claro e brilhante, mas ao virar-se para o oceano profundo, o ambiente torna-se escuro e azulado.” Para C. cyclolites, a luz azul atua como sinal direcional, guiando-os para águas mais profundas e calmas.

Os pesquisadores utilizaram imagens em time-lapse de alta resolução para documentar a biomecânica do C. cyclolites. Eles observaram que o movimento passivo, que depende da energia das ondas e da gravidade, é considerado o principal modo de migração após os corais se tornarem móveis. A combinação de ondas e gravidade ajuda os corais a se moverem para áreas mais profundas. A mobilidade ativa, por outro lado, é facilitada por três fatores principais: a inflação dos tecidos, a expansão das almofadas na face inferior e a torção e contração dos tecidos externos.

“O desafio da locomoção passiva é que, apesar de ser uma estratégia relativamente rápida, ela é arriscada,” explicou o biólogo marinho Andrew Davies. “Com a locomoção ativa e orientada por estímulos, os organismos têm controle sobre quando e para onde se movem.” O estudo sugere que corais como C. cyclolites podem possuir um sistema nervoso mais complexo do que se pensava, devido à semelhança com os movimentos das águas-vivas.

Os pesquisadores acreditam que esses achados podem oferecer insights sobre padrões de movimento em outras espécies de corais e contribuir para estratégias de conservação. “Compreender como C. cyclolites responde à luz pode nos ajudar a entender o comportamento de outras espécies de corais,” destacou Davies. “Esse estudo também pode ser útil para programas de restauração ou cultivo de corais.”



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