Em 16 anos, Estados Unidos deportaram 5 milhões de imigrantes


As promessas de campanha de Donald Trump, que anunciou a intenção de deportar milhões de imigrantes, acenderam um sinal de alerta para os estrangeiros que vivem ilegalmente nos Estados Unidos. Dados do Departamento de Segurança Interna (DHS) revelam que, embora as remoções de imigrantes sejam uma marca da política norte-americana nos últimos anos, não são exclusividade do novo presidente.

Remoções de Imigrantes Nos Últimos 16 Anos

Nos últimos 16 anos, que incluem dois mandatos do democrata Barack Obama, o primeiro mandato de Trump e a gestão de Joe Biden, aproximadamente cinco milhões de pessoas foram removidas do país. O termo "deportação" deixou de ser usado oficialmente nos Estados Unidos em 1996, sendo substituído por "repatriação", dividida em duas categorias: remoção e retorno.

  • Remoção: Quando o imigrante está ilegalmente no país e é alvo de uma ordem de remoção, podendo enfrentar penalidades administrativas.
  • Retorno: Ocorre quando a entrada do imigrante é negada ou quando ele decide deixar o país antes da emissão de uma ordem de remoção, sem penalidades administrativas.

Obama e as Remoções

Durante as quatro gestões presidenciais analisadas, o maior número de remoções ocorreu sob Obama, que deportou cerca de três milhões de pessoas em seus oito anos de governo. Em 2013, foi registrado um recorde anual de 432 mil retiradas forçadas.

O professor de História da América, Roberto Moll, da Universidade Federal Fluminense (UFF), comenta: “Apesar da retórica humanista sobre o tema, a administração Obama alegou que a deportação era destinada apenas a imigrantes sem documentos que cometeram crimes violentos. Todavia, a justificativa é questionável, inclusive pela quantidade de deportados”. Moll também destaca que Obama introduziu o Deferred Action for Childhood Arrivals (Daca) em 2012, permitindo que jovens imigrantes obtivessem permissões de trabalho e proteção temporária contra deportação.

Trump e a Política de Tolerância Zero

Ao assumir o governo em 2016, Trump prometeu endurecer as ações contra a imigração ilegal, incluindo a construção de um muro na fronteira com o México. Contudo, mesmo com essa retórica, o número de remoções durante seu governo (1,2 milhão de remoções entre 2017 e 2020) não superou o de Obama.

“Entretanto, o governo Trump instaurou uma política de tolerância zero, que não estabeleceu critérios baseados na criminalidade. Inclusive, separou famílias de imigrantes sem documentação e aprisionou crianças”, destaca Moll. Durante a pandemia de Covid-19, Trump utilizou códigos de saúde pública, conhecidos como Title 42, para deportar rapidamente imigrantes, sem permitir que solicitassem asilo.

Biden e a Continuidade das Remoções

Em 2021, Joe Biden assumiu a presidência e, apesar de não ter uma retórica anti-imigração tão contundente quanto Trump, manteve as remoções em mais de 100 mil por ano. Sob sua gestão, as remoções cresceram de 85 mil em 2021 para 330 mil em 2024, totalizando quase 700 mil pessoas removidas.

“Biden trouxe avanços, como a revogação da política de deportação baseada no Title 42 e a política de Remain in Mexico, além de tentar introduzir uma reforma da política migratória”, afirma Moll.

Histórico de Deportações e Retornos

Antes de Obama, presidentes como George W. Bush e Bill Clinton já haviam deportado milhões de imigrantes. Bush, em seus oito anos de governo, deportou cerca de dois milhões, enquanto Clinton quase chegou a um milhão.

De acordo com dados do DHS, 4,1 milhões de retornos ocorreram nos últimos 16 anos, sem contar os três milhões expulsos com base no código sanitário durante a pandemia. Para a professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carla Beni, “Trump é profundamente midiático, governando como se fosse um reality show”.

Rubens Duarte, coordenador do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo), acrescenta que a rigidez contra imigrantes ilegais não é nova, mas Trump transformou a situação em uma “caça às bruxas”, associando imigrantes a crimes de forma repetitiva e sem fundamentação.

Conclusão

A questão da imigração nos Estados Unidos é complexa e envolve uma longa história de políticas e retóricas que variam entre as administrações, refletindo mudanças nas percepções públicas e nas necessidades políticas do país.



Fonte: EBC

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