Um tipo misterioso de magma encontrado em vulcões extintos ao redor do mundo pode conter um suprimento abundante de elementos de terras raras, essenciais para tecnologias limpas como veículos elétricos e turbinas eólicas. Em um relatório divulgado em setembro de 2024, pesquisadores destacaram que, embora as terras raras, como lantânio, neodímio e térbio, não sejam realmente tão raras, sua extração é complexa devido à baixa concentração em que geralmente são encontradas.
Com a crescente demanda, muitos países estão à procura de novas fontes de terras raras para reduzir a dependência da China, que atualmente lidera essa cadeia de suprimentos. O estudo, conforme apontou Michael Anenburg, autor e pesquisador da Australian National University, “potencialmente abre uma nova avenida para a extração de terras raras”.
A pesquisa foi inspirada pela descoberta de um enorme depósito de terras raras em Kiruna, no Ártico sueco, que está situado sobre uma vasta massa de minério de ferro formada há cerca de 1,6 bilhões de anos, resultado de intensa atividade vulcânica. Isso levantou uma importante questão para os cientistas: por que as terras raras estavam lá? Eles se perguntaram se a presença desses elementos era um acidente geológico ou se havia algo inerente aos vulcões ricos em ferro que os tornava propensos a acumular terras raras.
De acordo com Anenburg, “nunca vimos um magma rico em ferro sair de um vulcão ativo, mas sabemos que alguns vulcões extintos, que têm milhões de anos, tiveram esse tipo enigmático de erupção.” Para investigar isso, os cientistas simularam uma câmara magmática em laboratório, utilizando uma rocha sintética com uma composição semelhante àquela dos vulcões extintos. Após aquecer a rocha em um forno pressurizado, eles descobriram que o magma rico em ferro era capaz de absorver todos os elementos de terras raras do ambiente circundante. O estudo revelou que esse tipo de magma era até 200 vezes mais eficiente na concentração de terras raras do que o magma normalmente encontrado em vulcões ativos.
As descobertas indicam a possibilidade de depósitos inexplorados de terras raras em vulcões extintos em várias partes do mundo, incluindo Estados Unidos, Chile e Austrália. Muitos desses locais já estão sendo explorados para a extração de minério de ferro, representando uma potencial oportunidade de “ganha-ganha” para as empresas e o meio ambiente. Anenburg afirmou que as empresas poderiam obter maior valor das minas, e “talvez não precisemos mais extrair recursos de um novo lugar”.
Lingli Zhou, professora assistente de metais críticos para energia na Vrije Universiteit Amsterdam, elogiou a abordagem do estudo. “Eles partem do laboratório e depois tentam imitar um ambiente natural, para entender como essas terras raras podem realmente se acumular em um pequeno lugar da crosta.” Essa informação pode ser valiosa para geólogos em campo, auxiliando na identificação de depósitos ricos e economicamente viáveis.
Contudo, a mineração de terras raras enfrenta desafios ambientais significativos, devido ao uso de produtos químicos tóxicos que podem contaminar o solo e as águas subterrâneas. Além disso, grupos de direitos humanos têm denunciado abusos na cadeia de suprimentos, incluindo trabalho infantil. Especialistas sugerem que a reciclagem de elementos de terras raras pode ser uma alternativa viável à mineração, com estudos recentes indicando que materiais de dispositivos como celulares e veículos elétricos podem oferecer uma fonte negligenciada de terras raras, reduzindo assim a necessidade de novas extrações.