Pessoas com gordura armazenada nos músculos apresentam um risco elevado de hospitalização devido a ataques cardíacos ou insuficiência cardíaca, independentemente do índice de massa corporal (IMC). Essa descoberta é resultado de um estudo divulgado no dia 20 de outubro no European Heart Journal, que se destaca por ser a primeira pesquisa a investigar os efeitos da gordura intramuscular nas doenças cardíacas.
Os pesquisadores alertam que medidas tradicionais, como IMC e circunferência da cintura, não são adequadas para avaliar o risco de doenças cardíacas de maneira precisa para todos.
“A obesidade é agora uma das maiores ameaças globais à saúde cardiovascular, mas o índice de massa corporal — nossa principal métrica para definir obesidade — continua sendo um marcador controverso e falho de prognóstico cardiovascular”, afirma a Dra. Vivany Taqueti, diretora do Laboratório de Estresse Cardíaco do Brigham and Women’s Hospital e professora da Harvard Medical School. Ela ressalta que o IMC pode não refletir adequadamente a composição corporal, especialmente em mulheres, onde um alto IMC pode estar associado a tipos de gordura menos prejudiciais.
A pesquisa incluiu 669 participantes que apresentavam sintomas como dor no peito e falta de ar, mas sem evidências de doença arterial coronária obstrutiva. A idade média dos indivíduos era de 63 anos, com uma predominância de 70% de mulheres e 46% de participantes não brancos. Os cientistas utilizaram tomografia por emissão de pósitrons/tomografia computadorizada (PET/CT) para avaliar a função cardíaca e realizar tomografias que analisaram a composição corporal, medindo a quantidade e a localização da gordura e do músculo.
Para medir a gordura intramuscular, os pesquisadores calcularam a fração de gordura intermuscular em relação ao total de músculo e gordura. Durante um acompanhamento de cerca de seis anos, foi registrado se algum paciente morreu ou foi hospitalizado por problemas cardíacos. Os resultados mostraram que aqueles com maior quantidade de gordura intramuscular tinham maior probabilidade de sofrer danos nos pequenos vasos sanguíneos do coração e enfrentavam um risco elevado de mortalidade ou hospitalização por doenças cardíacas.
“Para cada aumento de 1% na fração de gordura muscular, havia um aumento de 2% no risco de disfunção microvascular coronária e um aumento de 7% no risco de doença cardíaca grave futura,” destacam os pesquisadores. Esses achados se mantiveram válidos, independentemente de outros fatores de risco conhecidos e do IMC.
A preocupação com a gordura intramuscular se dá pelo fato de que, “comparado à gordura subcutânea, a gordura armazenada nos músculos pode estar contribuindo para inflamação e metabolismo alterado da glicose, levando à resistência à insulina e à síndrome metabólica,” explica Taqueti. Ela aponta que esses fatores crônicos podem danificar os vasos sanguíneos que irrigam o coração e afetar o próprio músculo cardíaco.
O estudo revela uma nova forma de identificar pessoas em alto risco de doenças cardíacas, independentemente do IMC. No entanto, ainda não se sabe como diminuir o risco para indivíduos com músculos gordurosos. “Não sabemos como novas terapias de perda de peso afetam a gordura nos músculos em comparação com a gordura em outras partes do corpo,” afirma Taqueti.
Atualmente, a equipe de pesquisa está avaliando o impacto de diferentes estratégias de tratamento, como exercícios físicos, nutrição, medicamentos e cirurgia, na composição corporal e nas doenças cardíacas metabólicas.