Brasileiros repatriados dos Estados Unidos relataram uma série de problemas durante o voo que os trouxe de volta ao Brasil, incluindo dificuldades com alimentação, falhas técnicas na aeronave e casos de maus-tratos. O grupo, que desembarcou no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte, era composto por 88 pessoas, mas quatro permaneceram em Manaus.
“Foi mais difícil voltar do que ir”
Matheus Henrique, de 22 anos, natural de Rondônia, descreveu a experiência como angustiante. “Sofremos um pouco de tortura lá dentro (do voo americano)”, afirmou. Ele contou que os passageiros estavam amarrados e que várias crianças passaram mal durante o trajeto. “Crianças estavam passando mal, desmaiando”, acrescentou.
Agressões em solo manauara
O vigilante Jeferson Maia, também de Rondônia, revelou que as agressões começaram antes mesmo da decolagem. A aeronave, que deveria chegar a Confins na noite de sexta-feira (24), fez uma parada em Manaus para reabastecimento. Durante este tempo, problemas no ar-condicionado geraram tumulto. Jeferson relatou que, ao pedir para sair da aeronave, foi agredido por um agente. “Eu pedi [para sair] para eles, e aí (um agente) me enforcou”, afirmou, destacando o desespero da situação, com crianças chorando.
Maus-tratos e alimentação insuficiente
Os relatos de maus-tratos foram corroborados por outros deportados. Luiz Fernando, que estava nos EUA há um ano e meio, afirmou que o tratamento recebido foi desumano. “A gente se alimentou (no voo), mas não muito”, disse, descrevendo a situação como “nunca vi algo daquele jeito”. Outro deportado, Aelinton Cândido, de 43 anos, destacou que o tratamento foi o pior que já enfrentou em sua vida.
Os relatos também trouxeram à tona as condições precárias durante a detenção nos Estados Unidos. Lucas Gabriel, de 23 anos, mencionou que os detentos recebiam alimentação muito limitada. “Até os cachorros do Brasil estavam comendo melhor que a gente lá”, afirmou.
Reação do governo brasileiro
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil classificou o tratamento dispensado aos deportados como “degradante” e planeja questionar o governo dos EUA sobre os eventos. O chanceler Mauro Vieira se reuniu com autoridades em Manaus para colher informações sobre a situação.
Após a chegada ao Brasil, os deportados foram tratados com respeito pela Polícia Federal, que garantiu alimentação e acomodação. Luiz Antônio, um dos repatriados, destacou a diferença no tratamento. “Fomos bem tratados quando a PF tomou conta de nós. Fomos desalgemados, [tivemos] comida, colchão”, afirmou.
Denúncias graves e direitos humanos
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, comentou sobre a gravidade das denúncias. “Os países têm suas políticas imigratórias, mas suas políticas imigratórias não podem violar os Direitos Humanos”, declarou. A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília foi contatada pela CNN Brasil, mas não respondeu até o momento da publicação deste texto.
Este relato expõe não apenas as dificuldades enfrentadas pelos deportados, mas também a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre os direitos humanos e o tratamento de imigrantes.