A primeira consulta com um ginecologista representa um marco importante na vida de uma menina, sinalizando a transição da infância para a adolescência. Esse encontro inicial é frequentemente marcado por ansiedades e questionamentos tanto para a mãe quanto para a filha, tornando essencial que o processo ocorra de forma natural e que o vínculo entre médico e paciente se desenvolva gradualmente.
De acordo com a ginecologista Cláudia Barbosa Salomão, membro da Comissão Especializada em Ginecologia da Infância e Adolescência da Febrasgo, a idade ideal para essa primeira consulta é em torno dos 10 anos, momento em que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência começa a se manifestar. Apesar de a primeira menstruação geralmente não ter ocorrido, é comum que as características da puberdade, como brotos mamários e pelos pubianos, já estejam se desenvolvendo.
Salomão destaca que, nessa fase, as meninas costumam ter menos expectativas e um nível de constrangimento reduzido em relação à consulta, o que facilita um contato mais espontâneo e descontraído. Esse acompanhamento inicial é crucial para que a menina se sinta segura diante das mudanças corporais e emocionais que estão por vir.
É fundamental que a criança não seja levada à consulta contra a sua vontade. Os responsáveis devem explicar claramente a importância do atendimento e a necessidade de conhecer um ginecologista. A escolha do médico é igualmente importante; deve-se optar por um profissional com experiência em lidar com adolescentes, criando um ambiente acolhedor e seguro para a paciente.
A ginecologista e obstetra Renata Bonaccorso Lamego, do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta que, nas primeiras consultas, a mãe pode acompanhar a filha. A partir dos 12 anos, a adolescente pode optar por ficar sozinha durante a consulta, um direito garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Algumas pacientes preferem ficar mais à vontade para conversar com o especialista e tirar suas dúvidas", explica Salomão.
Durante a primeira consulta, o médico examina se o desenvolvimento físico da paciente está dentro da normalidade e se há alguma alteração anatômica. Podem ser solicitados exames como hemograma e dosagem de colesterol. Também é um momento oportuno para discutir a imunização contra o HPV, o principal método de prevenção contra o câncer de colo de útero. A vacina está disponível na rede pública para meninas e meninos de 9 a 14 anos.
Além disso, o médico aborda temas sobre anatomia, higiene e cuidados íntimos. Lamego enfatiza que assuntos como sexualidade, contracepção e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis são igualmente importantes e podem ser discutidos nesse primeiro encontro ou em consultas posteriores. O sigilo sobre as informações discutidas no consultório é uma prioridade, exceto em casos que possam comprometer a saúde da paciente ou de terceiros.
Os exames considerados invasivos, como o toque e o papanicolau, não costumam ser realizados na primeira consulta, que, apesar de seu caráter mais básico, é de extrema importância para a saúde e bem-estar da adolescente.