Fósseis encontrados na China têm o potencial de revolucionar nossa compreensão da história humana; saiba mais.


Um conjunto intrigante de fósseis com características humanas encontrado na China tem desafiado a compreensão dos cientistas por décadas. Os fragmentos de crânio, dentes, mandíbulas e outros restos, datados entre 300 mil e 100 mil anos atrás, são evidências de hominídeos arcaicos — uma classificação formal para espécies ancestrais da linhagem humana.

O professor Christopher Bae, do departamento de antropologia da Universidade do Havaí em Manoa, e sua colega Wu Xiujie, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados em Pequim, estão revisitando esses fósseis com um novo enfoque. Ambos sugerem que é hora de reconhecer formalmente um hominídeo antigo até então desconhecido, propondo o nome de uma nova espécie: Homo juluensis, que se refere a "ju lu", significando "cabeça grande" em chinês.

Bae destacou que "os crânios são realmente muito grandes", com uma capacidade craniana estimada entre 1.700 e 1.800 centímetros cúbicos, superior à média dos Homo sapiens, que varia entre 1.350 e 1.450 centímetros cúbicos. Contudo, a proposta de Bae e Wu gera controvérsia entre paleoantropólogos, com alguns especialistas questionando se os fósseis devem ser classificados como uma nova espécie.

As investigações sobre esses fósseis podem ajudar a resolver um dos grandes mistérios da evolução humana, que começou com a descoberta de um osso de dedo mindinho na Caverna Denisova, na Sibéria. A análise de DNA desse pequeno fóssil levou à identificação, em 2010, de uma população humana antiga distinta chamada denisovanos. Embora muitos indivíduos atuais carreguem traços do DNA denisovano, a escassez de fósseis dificulta a compreensão de como eram esses ancestrais.

Os restos encontrados na China incluem 21 fósseis descobertos na década de 1970 no sítio de Xujiayao, representando 16 indivíduos que viveram entre 200 mil e 160 mil anos atrás. Outros locais de interesse incluem Lingjing, em Xuchang, e Harbin, onde um crânio foi encontrado após permanecer escondido por 90 anos. Esses fósseis foram muitas vezes ignorados devido a teorias ultrapassadas sobre a origem humana que predominavam nas décadas de 1970 e 1980.

Bae e Wu realizaram a primeira análise "abrangente" dos espécimes de Xujiayao, reconstruindo digitalmente um crânio que, segundo suas observações, é "completamente distinto" de outros hominídeos conhecidos, como os Neandertais e o Homo erectus. A equipe também comparou características com outros fósseis encontrados na região, argumentando que os hominídeos associados a esses fragmentos devem ser classificados como Homo juluensis.

No entanto, a comunidade científica permanece cética. Ryan McCrae, do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, argumenta que "é muito cedo para definitivamente agrupar os restos denisovanos com os fósseis de Xujiayao". Ele enfatiza a necessidade de evidências genéticas significativas para fundamentar a proposta de uma nova espécie.

Embora a prática de revisitar fósseis antigos seja comum na ciência, especialistas como Xijun Ni e Chris Stringer sugerem que os fósseis estudados podem estar mais relacionados ao crânio do Homem Dragão, conhecido formalmente como Homo longi. Essa teoria sugere que os fósseis de Xujiayao e os denisovanos poderiam pertencer ao mesmo grupo, o que complicaria ainda mais a classificação.

A discussão sobre a nomenclatura de novas espécies é complexa e envolve diretrizes rigorosas da Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica. A classificação de fósseis como pertencentes a uma nova espécie deve ser apoiada por evidências robustas e consenso entre pesquisadores.

As descobertas na China continuam a alimentar o debate sobre a diversidade de hominídeos que habitaram a região durante o Pleistoceno, e a história da evolução humana permanece um campo em constante evolução.



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