Palestinos saíram às ruas neste domingo (19) para celebrar e retornaram aos escombros de suas casas bombardeadas, enquanto a Cruz Vermelha foi resgatar os primeiros reféns libertados sob um acordo de cessar-fogo que interrompeu os conflitos na Faixa de Gaza.
Reféns Libertados
As três reféns mantidas pelo Hamas foram entregues à Cruz Vermelha, segundo uma autoridade israelense. As reféns são: Romi Gonen, Emily Damari e Doron Steinbrecher. Agora, Israel deve liberar 90 reféns palestinos que estão em poder dos israelenses.
A Trégua e Seus Efeitos
A trégua finalmente entrou em vigor após um atraso de três horas, durante o qual as forças israelenses bombardearam Gaza pelo ar em um ataque final, matando 13 pessoas, de acordo com autoridades de saúde palestinas. Uma equipe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha estava a caminho para receber do Hamas os primeiros reféns a serem libertados sob o acordo de cessar-fogo.
"Sinto que finalmente encontrei água para beber depois de 15 meses perdido no deserto. Sinto-me viva novamente", disse à Reuters, por meio de um aplicativo de bate-papo, Aya, uma mulher deslocada da Cidade de Gaza, que está abrigada em Deir Al-Balah, na região central da Faixa de Gaza, há mais de um ano.
No norte do território, onde ocorreram alguns dos mais intensos ataques aéreos israelenses e batalhas com os militantes, centenas de pessoas abriram caminho em uma paisagem devastada de escombros e metal retorcido. Combatentes armados do Hamas dirigiram pela cidade de Khan Younis, no sul do país, com multidões aplaudindo e cantando, apesar do atraso na implementação do acordo de cessar-fogo.
Apoio e Comemorações
Os policiais do Hamas, vestidos com uniformes azuis da polícia, se posicionaram em algumas áreas após meses tentando se manter fora de vista para evitar ataques aéreos israelenses. As pessoas que se reuniram para aplaudir os combatentes cantaram "Saudações às Brigadas Al-Qassam" – o braço armado do Hamas. O acordo de cessar-fogo trouxe esperança aos 2,3 milhões de habitantes de Gaza, muitos dos quais foram deslocados várias vezes.
O Serviço de Emergência Civil Palestino informou que os ataques militares israelenses mataram pelo menos 13 pessoas em todo o enclave durante o atraso. Nenhum outro ataque foi relatado após a entrada em vigor do cessar-fogo, às 11h15 (6h15 no horário de Brasília).
"Agora estamos esperando o dia em que voltaremos para nossa casa na Cidade de Gaza", disse Aya. "Com ou sem danos, não importa, o pesadelo da morte e da fome acabou."
Caminhões de Ajuda e Destruição
As ruas da destruída Cidade de Gaza já estavam ocupadas por grupos de pessoas agitando a bandeira palestina e filmando as cenas com seus celulares. Várias carroças carregadas com pertences domésticos percorriam uma rua repleta de escombros e detritos.
Ahmed Abu Ayham, 40 anos, morador da Cidade de Gaza e abrigado com sua família em Khan Younis, descreveu a cena de destruição em sua cidade natal como "terrível", acrescentando que, embora o cessar-fogo possa ter poupado vidas, não era hora para comemorações.
"Estamos sofrendo, sofrendo muito, e é hora de nos abraçarmos e chorarmos", disse Abu Ayham.
O tão aguardado acordo de cessar-fogo pode ajudar a pôr fim à guerra de Gaza, que começou após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1,2 mil pessoas, de acordo com as autoridades israelenses. A resposta de Israel reduziu grande parte de Gaza a escombros e matou cerca de 47 mil palestinos, segundo autoridades de saúde de Gaza.
Caminhões transportando combustível e suprimentos de ajuda fizeram fila nas passagens de fronteira nas horas que antecederam a entrada em vigor do cessar-fogo. O Programa Mundial de Alimentos informou que eles começaram a atravessar na manhã de domingo. O acordo exige que 600 caminhões de ajuda sejam autorizados a entrar em Gaza todos os dias durante o cessar-fogo inicial de seis semanas, incluindo 50 que transportam combustível.
"A guerra acabou, mas a vida não será melhor por causa da destruição e das perdas que sofremos", disse Aya. "Mas pelo menos não haverá mais derramamento de sangue de mulheres e crianças, eu espero."
Com informações das agências Reuters e Lusa.