Manter uma boa noite de sono é fundamental para a saúde física e mental. Além de fortalecer o sistema imunológico e reduzir o estresse, um novo estudo revela que a qualidade do sono pode prevenir pensamentos ruins e memórias indesejadas ao longo do dia.
A pesquisa, publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) no dia 31 de dezembro, oferece uma nova perspectiva sobre os mecanismos cognitivos e neurais que conectam sono e saúde mental. As descobertas podem contribuir para o desenvolvimento de novos tratamentos e estratégias de prevenção de doenças como a depressão e a ansiedade.
Pesquisadores das Universidades de York, Cambridge e Sussex, no Reino Unido, e da Queen’s University, no Canadá, utilizaram neuroimagem funcional e descobriram que a privação de sono pode resultar em déficits no controle da memória. Isso ocorre devido à dificuldade em ativar regiões cerebrais que ajudam a inibir a recuperação de memórias, facilitando o retorno inesperado de lembranças indesejadas ao consciente.
O sono REM (movimento rápido dos olhos) está associado ao rejuvenescimento dessas regiões cerebrais. Marcus Harrington, autor principal do estudo, explica que “memórias de experiências desagradáveis podem invadir a consciência, geralmente em resposta a lembretes”. Ele acrescenta que, enquanto essas memórias intrusivas são uma perturbação ocasional para a maioria das pessoas, podem se tornar recorrentes e perturbadoras para aqueles que sofrem de transtornos de saúde mental, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
Para conduzir o estudo, 85 adultos saudáveis tentaram suprimir memórias indesejadas enquanto os pesquisadores analisavam imagens de seus cérebros por meio de ressonância magnética funcional. Metade dos participantes teve uma noite de sono tranquila antes da tarefa, enquanto a outra metade permaneceu acordada. Durante a supressão de memória, os participantes bem descansados mostraram maior ativação no córtex pré-frontal dorsolateral direito, uma área que controla pensamentos, ações e emoções, em comparação com os que ficaram acordados.
Além disso, aqueles que dormiram apresentaram uma atividade reduzida no hipocampo – região do cérebro envolvida na recuperação da memória – durante as tentativas de suprimir memórias indesejadas. Os participantes que tiveram mais tempo de sono REM mostraram-se mais capazes de ativar o córtex pré-frontal durante a supressão de memória, reforçando a ideia de que o sono REM desempenha um papel crucial na restauração dos mecanismos de controle pré-frontal.
“Em conjunto, nossas descobertas destacam o papel crítico do sono na manutenção do controle sobre nossas memórias e pensamentos contínuos”, conclui Harrington.