Descoberta de 7 novos “cometas escuros” pode elucidar a origem da água na Terra


Astrônomos identificaram sete novos exemplos de um fenômeno cósmico conhecido como “cometas escuros”, que podem ajudar a determinar se esses corpos celestes contribuíram para o transporte de elementos vitais, como a água, para a Terra em seu início. Essa descoberta dobrou o número conhecido desses objetos misteriosos em nosso Sistema Solar, que se assemelham a asteroides, mas se movem pelo espaço como cometas, embora sem a cauda característica.

A pesquisa, publicada em 9 de dezembro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou a existência de duas populações distintas desses objetos. A presença de mais cometas escuros indica que eles não são tão raros quanto se acreditava. “Uma das razões mais importantes pelas quais estudamos pequenos corpos, como asteroides e cometas, é porque eles nos contam sobre como o material é transportado pelo Sistema Solar”, afirmou Darryl Seligman, autor principal do estudo e pesquisador de pós-doutorado em física e astronomia na Universidade Estadual de Michigan.

Os cometas escuros são considerados uma nova classe de objetos próximos à Terra que podem conter água, representando uma nova fonte potencial de materiais necessários para o desenvolvimento da vida no nosso planeta. “Quanto mais pudermos aprender sobre eles, melhor poderemos entender seu papel na origem do nosso planeta”, acrescentou Seligman.

A revelação de um visitante interestelar ocorreu quando os astrônomos estudavam o que acreditavam ser um asteroide chamado 2003 RM. Após notar um desvio em sua órbita, descobriram que o objeto se movia de forma semelhante a um cometa, embora não apresentasse sinais de uma cauda. “Este é um quebra-cabeça que desafia a maneira como sempre classificamos objetos como asteroides ou cometas”, explicou Davide Farnocchia, coautor do estudo e engenheiro de navegação no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.

Em 2017, a descoberta do objeto interestelar ‘Oumuamua trouxe novas perguntas sobre a classificação de objetos celestes. Observações mostraram que ele se comportava como um cometa, mas apresentava características de asteroide. “‘Oumuamua foi surpreendente em vários aspectos”, disse Farnocchia. “O fato de que o primeiro objeto que descobrimos do espaço interestelar exibiu comportamentos semelhantes ao 2003 RM tornou o 2003 RM ainda mais intrigante.”

Seligman e Farnocchia publicaram em 2023 pesquisas que descreveram um total de sete objetos com características incomuns semelhantes ao ‘Oumuamua, criando a nova classe de “cometas escuros”. Com essas novas descobertas, os cientistas identificaram duas categorias distintas dentro dessa classe.

Os cometas escuros internos são encontrados no sistema solar interno, se movendo em órbitas quase circulares e medindo apenas algumas dezenas de metros. Já os cometas escuros externos, que podem ter se originado das regiões mais distantes do sistema solar, possuem órbitas ovais e podem medir centenas de metros ou mais.

Os astrônomos agora se dedicam a investigar se os cometas escuros contêm gelo e a origem desses objetos. Uma melhor compreensão pode esclarecer se eles contribuíram para a evolução inicial da Terra ao colidir com ela durante a formação do planeta. “O Sistema Solar é um lugar caótico. Não sabemos de onde as coisas vêm, mas com os 14 cometas escuros que agora conhecemos, existem janelas de oportunidade para coletarmos mais dados”, disse Seligman.

Pesquisas anteriores sugeriram que até 60% dos objetos próximos à Terra poderiam ser cometas escuros. Ao contrário dos asteroides, que não contêm gelo, os cometas são corpos gelados que podem ter sido responsáveis por trazer água para a Terra. Os cientistas também estão explorando as razões para o tamanho pequeno e a rápida rotação dos cometas escuros internos.

“É possível que a atividade nos objetos do cinturão interno tenha sido ativada por alguma mudança física, como a destruição do objeto, o que é sugerido pelos pequenos tamanhos e rápidas taxas de rotação”, disse Aster Taylor, coautora do estudo. A sonda Hayabusa2 da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial deve se encontrar com um dos cometas escuros, o 1998 KY26, em 2031, o que pode revelar mais sobre as características únicas desses objetos celestes.



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